Autor da polêmica delação que gerou a abertura de uma série de inquéritos contra políticos e executivos, o senador cassado Delcídio Amaral (ex-PT-MS) contrapôs a afirmação da presidente afastada Dilma Rousseff, que o chamou de "mentiroso". Ao falar sobre a compra de Pasadena, em entrevista concedida na noite desta segunda-feira ao programa Roda Viva, ele disse que "absolutamente" Dilma mentiu ao dizer que não sabia de nada. As informações são do jornal Zero Hora.
— Absolutamente. Ela não assumiu a responsabilidade que era dela. Não adianta dizer que é da diretoria. A comissão de valores americana está avaliando isso. Alguém vai explicar pro investidor americano a compra de Pasadena e dizer que a diretoria não sabia? — afirmou.
Ainda sobre a aquisição da usina nos Estados Unidos, Delcídio reafirmou que "não há possibilidade de você levar um processo incompleto para a diretoria de administração", contestando a argumentação de Dilma, de que ela não tinha conhecimento da transação.
Delcídio também fez uma avaliação sobre o futuro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Dilma, do PT e do presidente interino Michel Temer. Ele afirmou que Lula sairá muito "desgastado de tudo isso" e que uma candidatura competitiva em 2018 "será muito difícil".
— Acho que ocorrerão outros desdobramentos com relação ao presidente Lula com base nas investigações. O cerco se fechou. (…) A situação do presidente Lula é muito difícil, é crítica — disse.
Quanto à Dilma, o senador cassado afirmou que ela "não volta mais", pois os 55 votos favoráveis ao afastamento demonstraram "claramente que o placar pode se alargar".
— Ela perdeu inclusive as condições políticas de governar o país. Ela vai para aposentadoria.
Na visão de Delcídio, o PT é um partido forte que perdeu "muito do seu brilho" e precisa "fazer uma revisão dos seus conceitos", incluindo mudança na direção.
— Rui falcão é bizarro, não tem dimensão para comandar um partido como o PT. Acredito que o PT tem pessoas lúcidas que vão prevalecer, que são extremamente competentes.
Sobre o governo de Temer, o senador cassado afirmou que há um "grande desafio pela frente", que a "vinda do Meirelles é relevante" e que "Serra nas relações exteriores" também é uma boa opção.
— Agora, acho que estamos de oito a 80. Tínhamos um governo que não tinha política nenhuma e agora tem política demais. Alguns ministros são fraquinhos. (…) Temos que trabalhar para Temer dê certo, mas os primeiros passos preocupam muito. E ele não tem base nenhuma social. Não é fácil comandar um país complexo como o Brasil assim.
Lava-Jato
Delcídio também falou sobre a Operação Lava-Jato, repetindo que havia um consenso no Planalto de que o governo sairia ileso, mas que quando "a água começou a bater no pescoço", houve tentativa de obstrução. Ele citou novamente a suposta negociação para nomear o Marcelo Navarro Ribeiro Dantas como ministro da Justiça, com a condição de que ele soltasse alguns presos em Curitiba, especialmente os empresários.
— Dilma tinha dúvidas se ele ia cumprir com esses compromissos, com a liberação de alguns presos da Lava-Jato, entre eles, os empreiteiros. Perguntei se ela queria que eu conversasse com ele e assim o fiz.
Além do PT, Delcídio destacou que o PMDB teve "posição proeminente" no esquema investigado na Lava-Jato e disse não ter dúvida de "que isso vai ficar nítido com a colaboração da Andrade Gutierrez".
— Na minha colaboração, mostro o sistema como funcionava do lado do PT e PMDB, quem comandava o quê. Isso vai aparecer nitidamente.
O senador cassado destacou ainda que não pode "botar a mão no fogo" pela inocência de Temer sobre suposta conivência com o esquema de corrupção na Petrobras.
— Não posso botar a mão no fogo, até porque não conheço bem as relações dele.
Questionado sobre a indicação de Jorge Zelada para diretoria Internacional da Petrobras, atribuída em delações premiadas da Lava-Jato a Temer, Delcídio pontuou, contudo, que não sabe se o peemedebista tinha ciência dos desvios de Zelada no cargo.
— Quando você indica alguém pro governo, não quer dizer que indicou alguém pra roubar. Às vezes, você indica alguém que tropeça, lamentavelmente isso acontece nos governos — ponderou. — Prefiro acreditar que ele (Temer) tenha endossado a indicação da bancada (do PMDB), mas vejo com muitas preocupações o que vem por aí.
Erros "assumidos"
O senador cassado admitiu que errou ao ter, segundo sua versão, aceito a pressão do ex-presidente Lula e da presidente afastada Dilma para tentar obstruir a Justiça ao tentar interferir nas investigações da Lava-Jato. Delcídio foi preso depois de ser flagrado em áudio tentando ajudar o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró a fugir do país.
— Acabei cometendo esse deslize e fui efetivamente denunciado por obstrução da Justiça. Quero destacar, é uma falha grave pela qual me desculpei, não deveria ter feito isso. Agora, não fui acusado por roubo, desvio de dinheiro, conta no exterior — afirmou.
O senador cassado também negou reiteradamente ter se beneficiado pessoalmente de recursos desviados no petrolão, como apontado em delações como de Cerveró e de Fernando Baiano — considerado o operador do PMDB no esquema de desvios. Segundo Delcídio, após passar por procedimentos de depoimentos "rigorosíssimos", ele "passou a limpo" tudo que se dizia sobre sua pessoa.
— Não me beneficiei, isso ficou muito claro — enfatizou.
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