Como reverter o saldo negativo de empregos no Brasil? Essa é a reflexão que se sobressai no Dia do Trabalho, comemorado neste domingo, diante do cenário de incertezas do país. Em março de 2016, o número de desempregados na região Metropolitana de Porto Alegre foi estimado em 198 mil pessoas, o pior resultado dos últimos sete anos, conforme a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), divulgada pelo Dieese e a Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Em 2015, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência Social, apontou que 95,1 mil postos de trabalho formais foram fechados no RS e 1,5 milhão no Brasil. Em março deste ano, mais de 11 milhões de pessoas passaram a procurar emprego no país, segundo o IBGE. A pesquisa do Dieese e FEE revelou ainda que, além da elevação do desemprego, os salários acumulam redução de 13,1% no comparativo dos últimos 12 meses. “Algumas empresas demitem os trabalhadores com salários mais altos e contratam outros com salário inferior”, avalia a economista da FEE Iracema Castelo Branco.
É consenso entre as entidades que representam empresas e trabalhadores que uma reversão depende dos rumos da política e, consequentemente, da retomada da economia. “Estamos vivendo a pior crise desde os anos 90”, alerta o coordenador do Conselho de Relações do Trabalho e Previdência Social (Contrab) da Fiergs, Paulo Garcia.
No RS, entre os setores que mais dispensaram mão de obra foram o comércio e reparação de veículos; indústria de transformação e construção civil. “As demissões acontecem porque a legislação trabalhista brasileira não dá flexibilidade para negociação com o trabalhador”, acrescenta Garcia.
Para o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Guiomar Vidor, a retomada da estabilidade política é crucial para o desenvolvimento. “Infelizmente, no Brasil, a maioria dos políticos pensa apenas em seus interesses pessoais, partidários e de alguns grupos econômicos”. O presidente em exercício da Força Sindical, Marcelo Furtado, compartilha da opinião. “O empregador não tem segurança para investir com a taxa de juros tão alta. O governo tem que ouvir o trabalhador que é quem vai tirar o Brasil da crise”, analisa.
Maior impacto foi na metalurgia
Entre os setores que mais sofreram desligamentos, sem ver reação do mercado, foi o metalúrgico. Em Gravataí, dos cerca de 800 trabalhadores da General Motors (GM) que entraram em regime de lay-off, em dezembro, pelo menos 300 não retornaram aos seus postos de trabalho. A Federação dos Metalúrgicos do RS contabilizou o fechamento de 30 mil vagas na metalurgia de 2015 até o momento. “Nos últimos 12 anos, preenchemos 104 mil novas vagas. Apesar do saldo ser positivo de 2002 para cá, a queda agora é assustadora”, avalia o presidente da federação, Jairo Carneiro.
Se o mercado enfrenta dificuldade de admissão de trabalhadores, no universo dos estágios e aprendizado também há incerteza. Conforme o CIEE/RS, o número de estagiários ativos estagnou na comparação com 2015, resultado da negociação com as empresas. “Estamos salientando a importância neste momento de as corporações contarem com jovens profissionais que, apesar da pouca experiência profissional, possuem uma carga de inovação e vontade de empreender”, diz o gerente de Operações do CIEE, Lucas Baldisserotto.
Emprego doméstico na contramão da crise
Na contramão do cenário de incertezas, está o emprego doméstico que, nos últimos anos, precisou se adequar à legislação (PEC das Domésticas). A Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), realizada pela FEE e pelo Dieese, mostrou que o segmento apresentou desempenho positivo, em 2015, na Região Metropolitana de Porto Alegre, interrompendo uma tendência de declínio observada desde 2008. No entanto, o rendimento médio real por hora apresentou redução para as mensalistas com carteira de trabalho assinada e ficou estável para as diaristas.
Em 2015, o segmento contava com 91 mil trabalhadores (88 mil mulheres), o que representa 5,2% do total de ocupados na Região Metropolitana. O emprego doméstico feminino apresentou elevação de 2,3% em 2015 em comparação ao ano anterior. Apenas entre as diaristas, observou-se uma redução. Na avaliação do Dieese e da FEE, os dados indicam que, apesar da deterioração do mercado de trabalho regional em 2015, o aumento no contingente de trabalhadoras domésticas ocorreu, principalmente, na ocupação que apresenta maior proteção social.
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