Levantamento feito pela Secretaria da Educação em 1.255 das 2,5 mil escolas estaduais mostra redução nos casos de bullying e de agressões físicas e verbais a professores, diretores e funcionários. No entanto, o trabalho evidencia que as estatísticas de aumento da criminalidade no Rio Grande do Sul têm reflexos no ambiente escolar. Somados os meses de novembro e dezembro de 2015 com março, abril, maio e junho de 2016, foram registradas5.625 ocorrências de violência no entorno das instituições de ensino.
Aulas são suspensas após mãe ser baleada na frente de escola em Viamão
São casos em que as atividades escolares foram prejudicadas em função de toque de recolher, tiroteios, ônibus incendiados, confrontos entre criminosos e a polícia, entre outros exemplos. Para efeito de comparação, se o número total é dividido pelos seis meses do levantamento, a média diária é de 30 casos.
Os dados sobre as escolas que participam das Comissões Internas de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipaves) serão divulgados na manhã desta quinta-feira (11) pelo governo do Estado. A Rádio Gaúcha teve acesso à integra do levantamento, que mostra evolução dentro do ambiente escolar, mas prejuízos em função da violência do entorno das escolas.
Não é possível comparar dados sobre a violência nas proximidades das instituições de ensino com o semestre anterior porque o questionário respondido pelas escolas teve mudanças. Entre 11 itens analisados no último semestre, a violência no entorno está em segundo lugar no número de casos que prejudicam as atividades escolares. Corresponde a 12,24% do total, só perdendo para a indisciplina em sala de aula, que está no topo, com 52% das ocorrências.
Logo depois aparecem a violência física entre alunos (10,58%), as agressões verbais a professores e alunos (10,47%) e o bullying, que representa 5,72% dos casos. Ainda estão na lista as depredações e pichações dentro das escolas (2,77%), assaltos na entrada e saída das instituições (2,39%), furtos ou arrombamentos (1,75%), acidentes no entorno (0,94%), posse ou tráfico de drogas (0,64%) e as agressões físicas a educadores (0,43%).
O secretário estadual da Educação, Luís Alcoba de Freitas, reconheceu que é preciso melhorar a segurança no entorno das escolas e disse que o governo tem trabalhado para envolver a comunidade e a polícia para prevenir os casos de violência. Segundo ele, brigadianos aposentados serão recrutados para atuar nas instituições situadas em comunidades com maiores índices de violência.
“Estamos atuando dentro das escolas, no sentido de ter uma cultura de paz, mas também a questão do entorno que acaba interferindo diretamente nas nossas escolas”, afirmou em entrevista ao Gaúcha Atualidade. Segundo ele, um convênio será feito com a Brigada Militar e a expectativa é melhorar a situação até o começo do ano letivo de 2017.
O secretário da Segurança, Wantuir Jacini, também falou sobre o assunto no Atualidade. Ele garantiu que os convênios para atuação dos PMs da reserva serão firmados, embora sem dar prazo. O secretário também disse que o governo está reforçando o policiamento no entorno das escolas de Porto Alegre, com mais 400 agentes na Operação Avante.
Redução nos casos de bullying
Com alguns dados, é possível fazer comparação com as ocorrências registradas no segundo semestre de 2015. Segundo o levantamento da Secretaria da Educação, houve redução de 16% nos casos de bullying na escola, que são as agressões intencionais contra colegas. Foram 2631 registros em seis meses. Também ocorreu queda de 3,9% nos registros de agressões físicas e verbais a educadores e de assaltos na entrada e saída das escolas. As depredações e pichações tiveram redução de 2,9%.
A Secretaria da Educação atribui ao trabalho das Cipaves a redução dos números de violência, principalmente os relacionados ao bullying. Segundo a pasta, das mais de 2,5 mil escolas estaduais, 1,8 mil constituíram comissões de prevenção de acidentes e violência. Desse total, 457 estão nos 19 municípios com maiores índices de criminalidade.
O projeto de criação das Cipaves, de autoria da então deputada Maria Helena Sartori, foi aprovado em 2012 pela Assembleia Legislativa, mas passou a ser implementado no ano passado, no governo de José Ivo Sartori. As comissões são formadas por professores, pais, alunos e direção. Participam também órgãos como Brigada Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, prefeituras e Ministério Público.
A primeira ação é mapear os principais problemas relacionados à violência e, depois, traçar estratégias para combatê-los. Desde o ano passado, foram criadas 25 salas de mediação de conflitos nas coordenadorias regionais de educação.
A coordenadora do projeto na Secretaria da Educação, Luciane Manfro, afirma que o principal diferencial das Cipaves é o envolvimento da comunidade com a escola. Sobre a violência do entorno, a professora – que também é policial civil – afirma que a Secretaria da Educação está fazendo um trabalho integrado com a Segurança, repassando informações sobre necessidade de policiamento e de atuação do setor de inteligência para combater o tráfico de drogas no entorno das escolas.
“O papel das Cipaves nessa questão da violência é fortalecer a importância da escola para as comunidades. Em vez de deixar que a violência do entorno entre na escola, estamos fazendo o processo inverso, de levar a paz da escola para dentro da comunidade”, afirma.
voltar