A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves (PSDB) travaram um debate tenso e direto na noite desta sexta-feira, na Rede Globo, no último duelo antes da eleição neste domingo. O programa durou cerca de duas horas, nos quais eles responderam perguntas entre si e de eleitores indecisos.
Denúncia da Veja marcou primeiro bloco
Aécio deu o tom dos ataques logo na primeira pergunta do debate, pressionando a presidente e candidata à reeleição sobre o suposto depoimento do doleiro Alberto Yousseff, reproduzido pela revista Veja. Ele pediu uma resposta sobre a acusação de que ela e o ex-presidente Lula saberiam dos desvios na Petrobras.
Dilma foi taxativa sobre o tema: "Essa revista, que fez e faz sistemática oposição a mim, faz uma calúnia e difamação do porte que fez e o senhor endossa a pergunta", comentou. "Essa revista tem o hábito de tentar dar um golpe eleitoral e não é a primeira vez. O povo não é bobo. Não foi apresentada nenhuma prova", salientou. "A partir de segunda-feira, vai desaparecer essa acusação. Mas eu vou investigar corruptos e corruptores."
O candidato do PSDB fez a tréplica criticando o recurso do PT para retirar a publicação do ar. "Apenas dei oportunidade de apresentar sua defesa. Não acredito que a tentativa que o seu partido fez de tentar tirar de circulação seja a melhor resposta", salientou o senador, acrescentando desgosto por campanhas apócrifas no Nordeste: "Carros estão circulando, dizendo que se votar no 45 a pessoa está automaticamente desligada do Bolsa Família", criticou.
Embate sobre emprego e reforma política
Em seguida, Dilma propôs tema polêmico a Aécio, questionando-o sobre a geração de empregos e disse que, hoje, o país se destaca por criar muitos empregos, com aumento real na renda no último mês. A presidente quis saber do tucano, então, se ele concordava com o que diz o seu candidato a futuro ministro da Fazenda (Armínio Fraga) para quem o salário mínimo estaria muito alto. Aécio contra-atacou declarando que não seria justo colocar palavras na boca de quem não estava ali. “A situação do Brasil é extremamente grave e é preciso que a senhora reconheça. O governo do PT fracassou na gestão e na melhoria dos indicadores sociais.”
A petista contrapôs que Aécio está mal-informado e acusou o governo tucano de deixar o país com a maior inflação já vista. “Nós aumentamos o salário mínimo em 71%, em termos reais, e quem não gastou o mínimo constitucional em saúde foi o senhor”, afirmou a candidata.
Num dos momentos mais tensos do debate, Dilma provocou Aécio dizendo que ele não tinha autoridade para criticar a instituição da reeleição porque foi no governo FHC que a proposta foi aprovada. “Vocês que criaram a reeleição, inclusive com um processo de corrupção de compra de votos para isso, e agora querem acabar com ela?”
Aécio negou e disse que sempre foi a favor de financiamento público da campanha, mas em campanhas limpas. Dilma respondeu que governa de forma limpa. “Reforma política não é apenas reeleição, mas sim o fim do financiamento das campanhas por empresas. Isso que é uma vergonha”, atacou Dilma.
Mensalão e seca em São Paulo agravam tensão
O debate ainda discutiu os investimentos em Cuba e o mensalão. O candidato tucano perguntou se José Dirceu foi punido adequadamente, mas a presidente fez o contraponto ignorando a questão sobre o ex-chefe da Casa Civil no governo Lula e apontou contra o PSDB: "Por que o mensalão chamado mineiro até hoje não foi julgado?"
A seca em São Paulo também abriu espaço para troca de críticas entre os candidatos. Dilma é que levantou o assunto apontando contra a administração do tucano Geraldo Alckmin: "Como o senhor enxerga esta questão da água em São Paulo. Houve ou não falta de planejamento?"
"O governo de São Paulo buscou fazer o que estava nas suas mãos", respondeu Aécio. "O seu candidato aqui fez campanha demonizando o governo estadual. Não tivemos a parceria da Agência Nacional de Águas. Esse aparelhamento da máquina pública é a parte mais perversa do seu governo."
A presidente seguiu o tom crítico na tréplica. "O fato é que a água é responsabilidade do Estado. Não planejar no estado mais rico do pais é uma vergonha", definiu. "Vou concordar com o humorista José Simão, pois estão levando São Paulo para ter o programa 'Meu Banho, Minha Vida'."
*Correio do Povo
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