El Niño marca o início do plantio da soja no Estado

Luiz Eduardo Kochhann

O Rio Grande do Sul inicia, nesta semana, o plantio do seu principal grão comercial, em um calendário agrícola marcado pela presença do El Niño. Normalmente, o fenômeno climático de aquecimento das águas do oceano Pacífico traz safras cheias para a região Sul do Brasil devido à abundância de chuvas. Já sentido os efeitos desse cenário, os gaúchos abriram oficialmente a semeadura da soja no último fim de semana, durante a 51ª Expojuc, realizada em Júlio de Castilhos, com a presença do governador José Ivo Sartori. A janela para semeadura se estende até 10 de dezembro, conforme a região.
As primeiras estimativas divulgadas pela Emater e pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a safra 2015/2016 indicam a manutenção da tendência dos últimos anos de incremento da área plantada de soja. A Emater projeta um aumento de 165 mil hectares, sendo que 80 mil hectares devem estar concentrados na Metade Sul do território, totalizando mais de 5,4 milhões de hectares. A Conab divulgou seu primeiro levantamento para as culturas de verão na última sexta-feira, prevendo uma evolução entre 1% e 2,5% na comparação com a área plantada no ano passando, ocupando, agora, 5,3 milhões de hectares.
A escolha pela oleaginosa para a cultura de verão em detrimento do milho, que deve ter sua menor área da história, com 779 mil hectares, acontece pelo bolso. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater de Passo Fundo, Cláudio Dóro, em 2015, o custo de implantação de uma lavoura de soja de alta tecnologia na região Nordeste foi de
R$ 1,4 mil por hectare, elevação de 20% em comparação com o ano passado, especialmente pela inflação nos fertilizantes. Por outro lado, cultivar o mesmo espaço de milho, no mesmo local, saiu, em média, R$ 2,2 mil.
Além disso, embora o produto esteja desvalorizado no mercado internacional na comparação com anos anteriores, a perda de força do real frente ao dólar recupera os preços para o produtor brasileiro. Entretanto, como a colheita acontece apenas a partir de maio de 2016, espaço de tempo suficiente para uma virada na situação cambial, os agricultores estão se protegendo travando os preços no mercado futuro. Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja-RS), Décio Lopes Teixeira, cerca de 30% do que vai ser plantado está comprometido por tal mecanismo de comercialização.
"Houve uma corrida para venda nesse mercado nas últimas semanas devido ao bom preço. Não me lembro de ter tanta soja vendida nesse mesmo período em anos anteriores. E o produtor está certo: onde houver oportunidade, melhor fixar para ter segurança", afirma Teixeira. É caso do sojicultor de Passo Fundo, Luiz Formigheri, que fixou ao menos o suficiente para cobrir os custos de produção. "Eu antecipei contrato para maio, porque fico mais tranquilo cobrindo os custeios da lavoura, já que o que está salvando os preços é o dólar deste momento", explica Formigheri.
Na sua propriedade, Formigheri implantou 20 hectares neste início da janela, mas ainda deve plantar mais 140 até o fim do ciclo. Espera, caso se confirme o volume ideal de chuvas, uma produtividade média de 73 sacos por hectares. Como antecipou a compra dos insumos, o agricultor teve um custo de cerca de 20 sacos por hectare nesta safra. "Quem comprou mais recentemente vai ter quase o dobro de gasto", compara. E, para manter a produção alta como em 2014/2015, espera boa quantidade de chuvas devido ao El Niño. "Investimos no que a de melhor no mercado, desde a semente. Se chover pelo menos como no ano passado, teremos uma produtividade muito boa", completa.

Descuido com a rotação de culturas pode trazer problemas para o solo

 

Seguindo a tendência dos últimos anos, o Rio Grande do Sul vai para mais um ano com incremento da área de soja e retração da cultura do milho. Embora seja compreensível do ponto de vista financeiro de curto prazo, tal escolha dos produtores causa apreensão entre as entidades de extensão rural. Nesse sentido, o alerta dos engenheiros agrônomos da Emater é para o desgaste do solo devido ao abandono da técnica de rotação de culturas, o que pode trazer consequências negativas para a agricultura gaúcha.
"O pensamento do produtor é de curtíssimo prazo, pensando apenas no bolso. Entretanto, a rotação é um importante investimento como corretor do solo em médio e longo prazo. A boa gestão de uma propriedade sustentável passa, inclusive do ponto de vista da viabilidade econômica, necessariamente, pela rotação de culturas", explica o engenheiro agrônomo da Emater, Cláudio Dóro. Além disso, enriquecendo o solo com matéria orgânica e diminuindo as pragas, o método aumenta a produtividade do plantio seguinte. "Tendo milho entre os ciclos de soja é possível aumentar a produtividade em 4 ou 5 sacos por hectares."
Com isso, outros cuidados necessários em uma safra com estimativas de precipitações elevadas são a erosão do solo e o desenvolvimento de doenças fungícas, especialmente a ferrugem asiática nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro. "Durante essa condição de El Niño, vale investir na lavoura, pois tem garantia de boa safra, embora seja preciso monitorá-la constantemente", destaca Dóro. A recomendação ao produtor é se valer de cultivares de ciclos precoces, que ficam menos tempo no campo até a colheita, além de aplicar o defensivo assim que os primeiros sintomas aparecerem.
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