El Niño vai trazer chuvarada e temporal neste inverno

Não será surpresa se, nos próximos meses, o Rio Grande do Sul registrar marcas mensais de 300 a 500 milímetros de chuva e, em alguns casos, mais do que 500. É a forma como o El Niño irá se manifestar sobre o Estado. Hoje com intensidade moderada, o fenômeno está se intensificando, segundo a MetSul, podendo provocar temporais e cheias nos rios entre o inverno e a primavera.



Será que o El Niño poderá repetir os estragos da sua última “visita” ao Estado, entre 2009 e 2010? Entre as lembranças mais marcantes do período, está a queda da ponte na ERS 287, em Agudo, sobre o rio Jacuí, que causou cinco mortes, em janeiro de 2010. A cidade ficou quase um ano sem ligação rodoviária com o centro do Estado. Apesar da fraca intensidade, em novembro de 2009, o fenômeno provocou uma sequência de chuvas torrenciais e ventanias que castigou dezenas de municípios no Sul, Centro, Noroeste e Oeste.



A notícia de um novo El Niño acende sinal de alerta na Defesa Civil do Estado e nos municípios que ainda aguardam recursos emergenciais de intempéries anteriores. Somente das chuvas de junho e julho de 2014, as prefeituras esperam R$ 30 milhões do Ministério da Integração Nacional, mas nada foi depositado.



Segundo a MetSul, as chuvas começam a aumentar desde já, mas a tendência é ampliar ainda mais na segunda metade do inverno, particularmente em agosto e setembro. O risco de inundações e cheias de rios segue altíssimo na primavera, informa a MetSul. As regiões que devem ser mais atingidas com chuvas excessivas serão as metades Oeste e Norte do Estado, além de Santa Catarina e Paraná. Por outro lado, se espera alívio para as cidades do Sul gaúcho que enfrentam estiagem desde o verão, podendo registrar chuva acima da média. 



O El Niño, em regra, traz invernos mais quentes, dizem os meteorologistas. Mas não raro com El Niño ocorrem eventos tardios de frio intenso, às vezes até com neve, em setembro. 



Repasses são minguados



Outra dor de cabeça para os municípios é a burocracia para a liberação de recursos. Das 107 cidades que tiveram decretos reconhecidos pelo Ministério da Integração Nacional, por conta das chuvas e enchentes de junho e julho de 2014, quase nenhuma foi contemplada até o momento com valores. Foi pedida ajuda na ordem de R$ 30 milhões, mas os repasses são minguados, segundo a Famurs. 



O presidente da federação, Seger Menegaz, afirma que não se consegue dar uma resposta efetiva à população. “Quando acontecem os eventos, é comum ver autoridades tirando fotos nos locais atingidos e depois deixarem os municípios atolados no barro e na burocracia.” Em Marcelino Ramos, um ano depois do deslizamento no bairro Balneário, nenhuma parte dos R$ 400 mil solicitados chegou. “Cinco famílias ainda estão fora das suas casas. O Estado pagou aluguel social por um tempo, mas não repassa mais”, diz o ex-coordenador da Defesa Civil, Ênio Wittmann. Em Iraí, a prefeitura fez levantamento de R$ 18 milhões de prejuízos em junho do ano passado. Mas só R$ 1,4 milhão chegou para reparar estradas vicinais e rede elétrica. “Até agora não veio ajuda para o principal, as famílias que perderam tudo”, afirma o vice-prefeito, Edson Borges do Canto. 



O ministério disse que enviou à Defesa Civil do RS, em julho de 2014, R$ 12 milhões. A Pasta alerta que não vai mais repassar verba para recuperar estragos em estradas vicinais e tubulações. O que a prefeitura resolveu, mesmo que provisoriamente, não será ressarcido.



Para justificar a demora, o ministério alega “limitação operacional”. Só 14 engenheiros analisam projetos de todo o país, segundo informação recebida pela Famurs. A União alega que muitas obras não se enquadram como ações de Defesa Civil.

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