Funaro cita propina a Temer por usina

O corretor Lúcio Funaro afirmou em depoimento à Procuradoria-Geral da República que o presidente Michel Temer foi um dos destinatários de propina paga pela Odebrecht e Andrade Gutierrez em uma obra da estatal Furnas no Rio Madeira, em Porto Velho, Rondônia. As duas empreiteiras são sócias de Furnas na Santo Antônio Energia, responsável pela instalação e operação da Hidrelétrica Santo Antônio, obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Segundo Funaro, além de Temer, receberam propina o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) – Cunha e Alves foram presidentes da Câmara e estão presos por causa de desdobramentos da Lava Jato. Todos negam as acusações.

Funaro não citou os valores da propina. De acordo com o delator, Cunha lhe contou que os repasses foram acertados pelos ex-executivo da Odebrecht Benedicto Júnior, o "BJ", e pelo ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques Azevedo, que também são delatores.

"Os valores foram recebidos por Eduardo Cunha e, posteriormente, foram repartidos entre Henrique Eduardo Alves, Arlindo Chinaglia e Michel Temer", disse Funaro em depoimento prestado em 24 de agosto. O relato do corretor foi anexado à denúncia oferecida pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra Temer por organização criminosa e obstrução da Justiça.

Ainda segundo Funaro, "provavelmente os pagamentos foram feitos parte em espécie e parte em doação de campanha, como era feito de costume na maioria dos casos". "Cunha costumava ira na casa de Otávio Azevedo, localizada perto do aeroporto, quando ia a São Paulo. Que (Funaro) não sabe precisar, nesse caso, o valor total pago e os porcentuais da divisão. Que Arlindo Chinaglia recebeu parte da propina porque era presidente da Câmara e ajudou a convencer o governo a entregar a presidência de Furnas para Eduardo Cunha", diz trecho do depoimento do corretor.

Em delações, ex-executivos da Odebrecht disseram que um grupo de quatro parlamentares recebeu cerca de R$ 50 milhões em propina para ajudar a empreiteira e a Andrade Gutierrez na licitação de Santo Antônio. Entre os citados pelos delatores, estão dois citados por Funaro em seu depoimento: Cunha e Chinaglia. Segundo os colaboradores da Odebrecht, o petista teria recebido R$ 10 milhões e Cunha, R$ 20 milhões.

Ex-ministro

A Polícia Federal mapeou todos os repasses realizados por Funaro a Henrique Alves. Segundo a PF, foram 15 pagamentos efetuados entre 2012 e 2014 que somam R$ 6,3 milhões. Em 2014, quando Alves foi candidato ao governo do Rio Grande do Norte, os agentes federais apontam o envio de R$ 4,8 milhões ao peemedebista.

Os repasses têm como base planilhas e anotações encontradas em HDs apreendidos com uma irmã de Funaro, alvo da Operação Patmos, em 18 de maio. Além de entregas em dinheiro pessoalmente ao peemedebista, como uma no valor de R$ 3,5 milhões em 18 de setembro de 2014, a PF detectou doações eleitorais para partidos indicados por Alves e o pagamento de despesas com helicóptero usado na campanha de 2014.

Em delação, Funaro disse que conheceu Alves por meio de Cunha e que ele recebeu propina de operações realizadas pela vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa.

110%

Em depoimento prestado em 23 de agosto, Funaro afirmou que "Cunha redistribuía propina a Temer, com 110% de certeza", segundo o jornal O Globo. De acordo com a reportagem, no relato há citações a casos em que Temer, Cunha e outros integrantes do partido teriam recebido propina. O delator afirmou ainda, conforme o jornal, que o dinheiro era lavado com a compra de imóveis.

Planalto Procurado pela reportagem, o Palácio do Planalto reafirmou que "versões de delator já apontado pelo Ministério Público Federal como homem que traiu a confiança da Justiça não merecem nenhuma credibilidade". Chamou ainda o corretor Lúcio Funaro de "criminoso". Em nota divulgada nesta quinta-feira, a Secretaria de Imprensa da Presidência afirmou que todos imóveis do presidente Michel Temer foram comprados de forma lícita e estão declarados à Receita. "Funaro mais uma vez desinforma o Ministério Público Federal."

O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) afirmou que nunca esteve nem conhece Funaro. "Ainda que não saiba o que disse a meu respeito, mentiu ao tentar me envolver em seus crimes." O advogado Marcelo Leal, que defende Henrique Eduardo Alves, negou que o ex-ministro tenha recebido vantagem indevida relativa à usina. Sobre o relatório da PF, afirmou que não teve acesso e que "não é verdade" que Alves tenha participado de esquema na Caixa.

A defesa do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) afirmou que sua atuação parlamentar "sempre se deu dentro dos limites legais". A Andrade Gutierrez disse que colabora com as investigações. A Odebrecht também afirmou que coopera com a Justiça.

 

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