Grupo de médicos diz que número de casos confirmados de toxoplasmose chega a 148 em Santa Maria
Um grupo de médicos infectologistas de Santa Maria, no Centro do estado, divulgou números diferentes dos apresentados pelas autoridades oficiais de saúde sobre os casos de toxoplasmose no município. A partir de um levantamento de casos, após consultas e exames em consultórios e clínicas, realizados desde março deste ano, eles dizem ter notificado 199 casos suspeitos. Destes, 148 tiveram resultado positivo, e outros 51 apresentaram suspeita clínica.
Além disso, entre um grupo de gestantes, atendidas a partir de janeiro deste ano, foram identificadas 51 suspeitas, que ainda aguardam resultados de exames.
Esses números são diferentes dos divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde, que informa 193 notificações e 51 confirmados, dos quais oito gestantes. Em nota enviada ao G1, a pasta sustenta que segue tendo como fonte oficial somente os resultados informados pelo Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen).
O motivo da diferença, de acordo com os médicos, é que os exames ainda não passaram por contraprova, que é uma exigência da secretaria para compilação dos dados.
Os médicos decidiram fazer essa investigação alegando que precisam de mais agilidade nas confirmações por parte do Lacen, para que consigam agir rapidamente e que se evite novas contaminações.
Como sugestão para agilizar os resultados, os médicos apontaram o Hospital Universitário de Santa Maria, que também tem condições para realizar os exames, segundo eles.
Laboratório de referência é o Lacen, diz secretaria
A Secretaria Estadual de Saúde informa que, para a confirmação oficial dos casos, a referência para a análise é o Laboratório Central do Estado. "O local tem expertise nesse tipo de exame, onde as amostras passam por dois tipos de diagnósticos de anticorpos e, somente com a positividade de ambos, se considera o caso como confirmado", aponta, no texto.
A pasta ainda complementa que busca formas de qualificar e agilizar o processo de notificação, juntamente com o Hospital Universitário de Santa Maria, que hoje opera com a identificação de um único anticorpo. "Isso impossibilita, neste momento, a conjugação das duas frentes de trabalho. Por critérios epidemiológicos, só é possível agregar um novo serviço laboratorial como fonte oficial quando ele segue o mesmo processo de análises clínicas do Lacen", conclui a nota.
O prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom, esteve na terça-feira (24) com o ministro da Saúde, Gilberto Occhi, para discutir a situação e buscar recursos financeiros. Durante o encontro, ficou definido que remédios serão enviados pela União ao município para o tratamento dos pacientes, e que uma equipe do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde (EpiSUS) vai a Santa Maria para auxiliar as equipes de vigilância do estado e do município a buscar origem do surto na cidade.
Na segunda (23), o prefeito havia se reunido com representantes do governo estadual para tratar do assunto. A administração municipal diz ter investido R$ 30 mil na compra de antibióticos e antivirais, e que adquiriu 6 mil dezenas de unidades de remédios, suficientes para três meses.
"A reunião de ontem no governo do estado e a de hoje [terça] no Ministério da Saúde nos dão a garantia de que tudo que deve ser feito, estamos fazendo. Trabalhamos de forma antecipada para assegurar os remédios e buscamos reunir todas as forças: União, estado e município”, disse Pozzobom.
A toxoplasmose, cujo nome popular é doença do gato, é uma doença infecciosa causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii. Este protozoário é facilmente encontrado na natureza e pode causar infecção em grande número de mamíferos e pássaros no mundo todo.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, a doença pode ocorrer pela ingestão de oocistos [onde o parasita se desenvolve] provenientes do solo, areia, latas de lixo contaminadas com fezes de gatos infectados; ingestão de carne crua e mal cozida infectada com cistos, especialmente carne de porco e carneiro; ou por intermédio de infecção transplancentária, ocorrendo em 40% dos fetos de mães que adquiriam a infecção durante a gravidez.
Em alguns casos os sintomas não se manifestam, mas podem ser:
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Febre;
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Cansaço;
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Mal estar;
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Gânglios inflamados.
O período de incubação da toxoplasmose vai de 10 a 23 dias quando a causa é a ingestão de carne, e de 5 a 20 dias quando o motivo é o contato com cistos de fezes de gatos.
A Sociedade Brasileira de Infectologia lista medidas de prevenção
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Não ingerir carnes cruas ou malcozidas;
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Comer apenas vegetais e frutas bem lavados em água corrente;
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Evitar contato com fezes de gato. As gestantes, além de evitar o contato com gatos, devem submeter-se a adequado acompanhamento médico (pré-natal). Alguns países obtiveram sucesso na prevenção da contaminação intrauterina fazendo testes laboratoriais em todas as gestantes;
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Em pessoas com deficiência imunológica a prevenção pode ser necessária com o uso de medicação dependendo de uma análise individual de cada caso.
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