Mulheres representam 32% das candidaturas em cidades no RS

Redação: Aguas Claras/Rafael Nunes

Fonte: G1 RS

A participação de mulheres como candidatas nas eleições municipais, em relação aos homens, ficou em 31,95% neste ano no Rio Grande do Sul. Ao todo, 8.964 mulheres disputam cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador no estado. Mas quase 70% do total de candidaturas é formada por homens: são mais de 19,4 mil na disputa.



Neste ano, a briga por cargos, por ambos os sexos, se manteve praticamente igual às eleições de 2012. Na época, 31,48% eram mulheres e 68,5% homens. Os dados foram divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por meio deste site e foram cruzados peloG1.A comparação entre as duas eleições revela ainda uma queda no número de candidaturas. São 702 pessoas a menos na disputa. Do total, 202 são mulheres  (redução de 2,2%) e 500 são homens (-2,5%).  A maior diminuição ocorre para vereador, com 698 pessoas a menos, uma queda de 2,6%. 



Ao se analisar cargo a cargo, só houve aumento nas candidaturas em duas situações: para a disputa a prefeito por homens, com cinco a mais, e para vice-prefeito por mulheres, com quatro a mais.



Disparidade é histórica, diz docente

A professora de ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Jussara Reis Prá entende que uma das explicações para a baixa participação de mulheres nas eleições municipais está na história. Ela cita o longo caminho pelas mulheres para a conquista do direito ao voto. "As mulheres levaram mais de um século, depois do fim da Revolução Francesa, para conseguirem o direito ao voto. É uma construção histórica." 



No Brasil, mulheres só passaram a votar a partir de 1932, no governo de Getúlio Vargas. Entretanto, como analfabetos não poderiam votar – e a maioria delas estava nesta condição –, elas não participavam. A situação perdurou até 1988, com a nova constituição, explica a docente.



A preocupação com a baixa participação da mulher na política passou a ser discutida, em âmbito mundial, em 1975, na primeira Conferência Mundial de Mulheres nas Nações Unidas. "Todos os países vinculados as Nações Unidas tiveram que fazer diagnósticos de 10 anos para levantar problemas. (Dez anos depois) um dos problemas apontados era a sub-representação da mulher na política", observa a professora.

Na terceira conferência, em 1995, ficou definido a reserva de 30% das vagas para mulheres nas eleições para todos os países membros das Nações Unidas. Dois anos depois, foi aprovado um índice de 20% que subiu para 25% e, em seguida, para 30%. Com a minirreforma política de 2009, a palavra "reserva de vagas" para mulheres foi substituída por "preenchimento mínimo" de 30% das vagas, lembra Jussara.

 

O índice ajuda a explicar porque o total de candidaturas de mulheres fica na casa dos 30%, situação que não surpreende Jussara. "Está na margem do que a legislação estabelece. Às vezes estão ali para cumprir a cota."



Para a professora, as cotas não são suficientes para impulsionar uma maior participação das mulheres na política. "É preciso uma política redistributiva. Se não tem mulheres, ninguém ocupa aquela vaga." Jussara entende que a baixa participação também se deve por questões culturais e de mentalidade da população. "Tem que ter mudança cultural. A própria população entende que ali não é lugar de mulher. Tem todo esse histórico, tem que ir quebrando."



Para mais avanços, a professora vê a necessidade de mudanças na educação das meninas, na escola e dentro de casa. "Quando uma casal vai para ter bebê, vai tudo ou azul ou rosa, uma ideia pré-concebida. Já está mudando bastante, mas muito devagar. (…) É mais fácil se criar homens do que para mulher (para a política). A criança vê o exemplo no irmão, tio, avó que é político. Tem que ter aprendizado." 



Jussara pondera ainda que algumas mulheres não se identificam com a política. "(Elas) têm competência, mas muitas não têm vontade porque sabem do mundo hostil da política. Nem todas têm interesse."

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