Mulheres têm salário 25% menor que o dos homens

Se até as atrizes da indústria de cinema de Hollywood resolveram reclamar neste ano das desigualdades em um mercado de trabalho em que as diferenças podem valer milhões de dólares, imagina como se sente boa parte das 852 mil mulheres que integram a força feminina na População Economicamente Ativa (PEA) na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA). Aquelas que estavam ocupadas no ano passado na RMPA, por exemplo, ganharam, em média, 24,7% menos que os colegas homens. O salário médio foi R$ 1.579,00 para a ala feminina, ante R$ 2.093,00 dos homens. No setor industrial, a distância é ainda maior: 33,4%, e nos serviços, chega a 29%. Apenas o comércio ficou na média.

A estatística, que compõe o Informe Mulher e Trabalho divulgado nesta quinta-feira pelas entidades que elaboram a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), é confirmada na vida real pela enfermeira Jéssica Akemy. A jovem cita que, na disputa por vagas, alguns quesitos em sua área de atuação desfavorecem a colocação e até a chance de melhorar o rendimento. "Quando é alguma função como emergencista, alegam que precisa ter mais força, mas isso não faz diferença no trabalho", garante a enfermeira, lembrando que sua profissão é ainda território dominado por mulheres. "A gente é maioria, mas há diferenças em favor deles", observa Akemy.

Na área de serviços, a PED mostrou que um empregado recebia, em média, quase R$ 700,00 mais. O rendimento médio foi de R$ 2.360,00 para ocupados e R$ 1.681,00 para as ocupadas. O estudante de Engenharia da Computação e projetista de produto de uma indústria de componentes eletrônicos na Capital Vinícius Maciel Hoff está o ramo com maior vantagem percentual para o gênero masculino. É de cerca de R$ 650,00 o ganho maior. Hoff espera mais que dobrar o rendimento após se graduar e identifica maior preconceito na sua área quando se trata de mulheres com a formação. "Isso reflete mais a cultura e se vê na hora de selecionar, mas depois, no dia a dia, não há diferença", acredita o projetista.

"A desigualdade de renda ficou quase no mesmo patamar em relação a 2013", indicaram os responsáveis pela análise pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (Fgtas) e Dieese. Desde 2000, a menor distância foi registada em 2008, de 24%, seguida pelo percentual de 2014. Há 14 anos, as mulheres recebiam quase 32% menos, e as maiores taxas estavam também nas escolaridades intermediárias, Ensino Fundamental completo e incompleto. No nível superior, a distância entre os valores era de 28,5% no ano passado, mas estava entre os analfabetos o menor percentual, de 19,8%. Outro achado da pesquisa é que empregados e empregadas do setor público e privado apresentam diferenças muito próximas.

A taxa de desocupação feminina teve maior velocidade na queda nos últimos 14 anos, quando passou de 19,6% em 2000 para 6,6% em 2014, recuo de 13 pontos percentuais, ou 66%. No mesmo período, a taxa dos trabalhadores reduziu de 14,2% para 5,4%, 8,8 pontos menos, ou 62%. Mesmo assim, o indicador é ainda superior ao da PEA masculina, com seus 997 mil representantes. "Mas os homens ficaram quase na mesma posição, e as mulheres mantiveram a queda", contrasta Míriam De Toni, socióloga que coordenou o informe. O que deu um empurrão nesse desempenho foi a alteração no comportamento feminino na hora de disputar o mercado (menos pressão por vagas), o que amenizou a queda de 2,1% na oferta de postos para esta população. Segundo Míriam, foi a primeira queda em 10 anos, mas que refletiu o panorama em baixa a geração de vagas que não discriminou gênero. Homens e mulheres viram minguar a oferta de postos.
 

Com estratégias, desempregadas driblam desvantagens do mercado

Líder na porção de desempregados na RMPA, que somou 109 mil pessoas (56 mil mulheres ou 51,1% do contingente) no fim de 2014, a ala feminina tenta driblar as desvantagens na disputa por colocação. Mas em 2014, a fatia de pouco mais de 46% dos ocupados é a menor em 10 anos. A razão é a menor busca de vagas pelas mulheres. Elas podem estar preferindo se dedicar a outras tarefas.

A promotora de vendas Gregória Rocha Ribeiro, 49 anos, e a recepcionista Chaiane de Abreu, 22 anos, confirmam que é preciso demarcar as qualidades para obter trabalho. Agora, a dupla decidiu dar um tempo do mercado. "Saio, mas volto logo", avisa Gregória.

As duas se conheceram nesta quinta-feira, enquanto encaminhavam o seguro-desemprego na agência do Sine, na rua José Montaury, no Centro da Capital. Chaiane comentou que atuou também como atendente de telemarketing, funções em que há preferência por mulheres, mas lamenta os baixos salários. A promotora de vendas diz que a situação já foi muito pior na disputa com os homens.

"Já perdi vaga e me disseram na cara que buscavam homem, que era mais forte", conta a vendedora. Em mais de 30 anos no mercado, Gregória desenvolveu estratégia própria para conquistar uma vaga e estuda os candidatos antes das seleções. "Gosto de vencer os homens", admite a vendedora. No comércio, assegura, conta a postura e a conversa. "A mulher estudou, está mais preparada, a gente lutou por isso, mas ainda tem de melhorar."
 

Patrícia Comunello Jornal  do Comercio

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