Presidente da Assembleia do RS pedirá investigação de deputado suspeito de irregularidades

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Marlon Santos (PDT), pedirá à Comissão de Ética do parlamento a investigação das denúncias contra o deputado Edu Olivera (PDT). Alvo de investigação do Ministério Público, Olivera teve irregularidades expostas em reportagem do Fantástico do último domingo (23), produzida pela RBS TV.

"Esse tipo de encaminhamento permite que seja escrutinada a situação, levantado tudo aquilo que seja de prejuízo para a Assembleia, e de prejuízo de decoro para a Assembleia também. E as devidas providências cabíveis e extremas serão tomadas com toda a certeza", disse Santos.

A Justiça negou o pedido de afastamento do deputado solicitado pelo MP.

Novas denúncias divulgadas no RBS Notícias mostram que o gabinete do deputado esteve a serviço de uma campanha eleitoral, e que assessores apresentaram notas falsas e inventaram até entrevista em estação de rádio para embolsar diárias. Além disso, o caseiro do sítio do parlamentar, que era remunerado como assessor, também forjou viagens ao interior.

As denúncias contra Olivera partiram de um ex-assessor. Por 11 meses, Ewaldo Berni Gonçalves diz ter testemunhado desvios de diárias, repasses de salários e a existência de muitos funcionários fantasmas.

"Numa instituição como a Assembleia Legislativa, que tinha que servir os políticos que têm que servir de modelo para a população, você vê um descaso. As pessoas simplesmente pegando dinheiro da maneira que dá, com a ganância de pegar o dinheiro", afirma o delator.

 

Campanha para Jairo JorgeEntre os fantasmas está Mario Luiz Cardoso, que recebia salário de R$ 15 mil por mês. Ele foi flagrado pela equipe de reportagem fazendo campanha para o candidato do PDT ao governo do estado, Jairo Jorge, em horário de expediente na Assembleia Legislativa.

"O objetivo dele era só esse, era um acordo com o Jairo Jorge para fazer a campanha, tanto é que ele começou no gabinete, foi para a bancada e depois voltou para o gabinete. Ele teve uma sequência em questão de 60 dias lá, começou com salário de R$ 3 mil, foi pra 12, 14 (mil reais), e depois voltou para o gabinete", disse o delator.

Jairo Jorge disse que o assessor Mário Cardoso não desempenhou nenhum papel na coordenação da campanha, e que participava apenas como militante.

 

Irregularidades em prestação de contas

 

A reportagem veiculada no Fantástico mostrou que o assessor Leonardo Goia recebia R$ 3 mil da Assembleia para cuidar do sítio de Edu Olivera. O MP diz que Goia forjou viagens ao interior do estado para receber pelo menos 30 diárias.

A fraude também é admitida pelo ex-assessor José Honório Santana, que disse ao Fantástico que devolvia parte dos salários e das diárias frias que recebia "A diária, vamos supor, dá R$ 380. Eu pego 80 pila, 50 pila ou 100 pila, e o resto você me dá que eu tenho que por na caixinha", explica o assessor.

Na prestação de contas dele entregue à Assembleia, aparece uma nota fiscal de hospedagem em Tapejara, com todos os dados. No entanto, o nome de Jose Honório, que consta no documento, não aparece na via que ficou no hotel.

Em um relatório de viagem, o ex-assessor disse que esteve em uma rádio em Dom Pedrito, para dar entrevista sobre o estatuto do desarmamento. Entretanto, o radialista e jornalista João Roberto Vasconcellos, que trabalha na emissora, negou.

"O classificaria como mentiroso, porque não tem outra palavra e eu gosto ser muito franco nessas situações, porque ele nunca veio aqui", disse Vasconcellos.

A diária da viagem que não ocorreu foi comprovada uma nota de R$ 20. O comprovante foi emitido pelo restaurante dois minutos depois de emitir outra nota, apresentada pelo próprio Edu Olivera em sua prestação de contas. Ambas têm numeração sequencial, ou seja, uma foi emitida logo depois da outra.

A perita Carla Mena, especialista em fraudes documentais, examinou os comprovantes e disse que há indícios de fraude. "Concluímos que essa pessoa não estava na viagem, porém juntou essas notas fiscais pedindo essa requisição, essa solicitação das viagens, mas ela não estava lá", afirma.

Foi o que fez, também, o chefe de gabinete Edson Perochein, que mora em Santana do Livramento, a 500 km da Assembleia, onde trabalha como advogado. Mesmo sem sair da Fronteira Oeste, ele apresentou notas para receber diárias de viagens a Porto Alegre.

Questionado pela reportagem se recebe diárias apresentando nota de sorveteria, Perochein pediu para ver o documento em que consta o gasto e, após conferir, confirmou.

O servidor negou que more em Santana do Livramento, afirmando que vive no Centro da capital gaúcha, mas, ao ser informado que um monitoramento apontou que ele passa dias na cidade fronteiriça, admitiu: "Eu passo entre Porto Alegre e Livramento."

 

'Estou constrangido'

 

O Ministério Público diz que o deputado também embolsou diárias por viagens não realizadas, mas ele nega.

"Vocês estão falando com um homem de 18 anos de vida pública, um advogado. Eu estou constrangido nesse momento porque eu não imaginava passar por uma situação dessa. Eu estou extremamente constrangido. Não sei o que aconteceu, lamento que isso tenha acontecido dentro do meu gabinete", afirmou o deputado.

A reportagem não conseguiu contato com Mário Cardozo e Leonardo Goia, citados na reportagem.

G1 RS

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